Numa dessas noites no início do mês, recebi uma ligação cuja mensagem me fez entrar em um turbilhão emocional.
A princípio a informação do desencarne de uma pessoa da família me pareceu meio distante, um tanto impessoal, como se não houvesse me afetado realmente.
A “ficha” só caiu ao contar o acontecido para uma amiga, enquanto eu compartilhava o fato ocorrido um redemoinho de sentimentos brotava e as lágrimas enfim começaram a jorrar.
Um misto de incredulidade, mágoa, culpa, tristeza e pesar me inundavam, apenas falando conseguia naquele momento ouvir a dor que preenchia meu coração. No dia seguinte não foi diferente, cada pessoa com quem tinha algum tipo de contato me fazia acessar um complexo doloroso que eu precisava dar atenção.
Como meus momentos podem ser contados e sentidos através de uma playlist musical, não tardou para que chegasse até mim a música que seria uma importante ferramenta para a compreensão dessa passagem.
Permissão, assim me coloquei aberta a sentir tudo o que necessitava para vivenciar o luto. Cada vez que ouvia aquela canção meu coração se enchia de dor e ao rolar as lágrimas ia sentindo e ouvindo o que queriam me dizer.
A primeira chave que recebi foi que toda dor sentida era da criança ferida que por vezes se sentira rejeitada, abandonada, desprotegida, amedrontada ou incapaz. Fui vítima, juiz e carrasco de mim mesma e de quem partira.
Cada vez que acessava uma dor da criança ali era a oportunidade de trazê-la junto ao peito e acalentá-la, trazendo a Luz da consciência, do perdão, da compaixão e do amor próprio, resgatando assim um a um os vários fragmentos perdidos que advinham de uma relação conturbada e distante que outrora tivera com minha mãe.
Passei o dia nesse processo e no cair da noite já com os olhos vermelhos e inchados (de tanto chorar), o coração lavado e a alma leve, a música que havia me conduzido no caminho (até então doloroso) de resgate da criança interior ferida transformou-se na mais singela oração de gratidão e amor incondicional por aquela alma valente ter sido nessa encarnação meu portal vida.
Apesar de algumas de suas escolhas parecerem sem sentido para mim ao longo da vida, ao aceitá-las simplesmente por serem o que eram, as escolhas dela, entendi que foram essas mesmas escolhas (dela) que me impulsionaram inconscientemente a trilhar o caminho do autoconhecimento onde me encontro e que hoje me faz compreender que não há perda na morte, a dor sentida é das partes de nós que ainda não tomaram consciência de que não há separação real.
Liberdade é o que sintetiza meu sentir agora, livre estamos ambas das dores e apegos de nossa relação tão complicada e muito pouco vivenciada de mãe e filha nesta encarnação, cada uma trilhando seu próprio caminho e eternamente conectas pelo Amor Incondicional.
A morte é a impermanência da vida (carnal), a existência (essência) é infinita e imortal.
Diwáli Jhankri