Resumo Este artigo investiga as possíveis intersecções entre a fenomenologia transcendental de Edmund Husserl e a experiência xamânica, com ênfase na expansão da consciência mediada pela Ayahuasca. A partir de uma abordagem interdisciplinar, examina-se a redução fenomenológica como um análogo metodológico ao deslocamento de perspectiva promovido pelas práticas xamânicas. Argumenta-se que a experiência com a Ayahuasca pode ser interpretada à luz dos conceitos husserlianos de intencionalidade, epoché e vivência, fornecendo subsídios para uma discussão filosófica sobre estados não ordinários de consciência e seus impactos epistemológicos e ontológicos. Além disso, o artigo problematiza a possibilidade de ampliação da fenomenologia por meio do estudo das experiências enteogênicas, explorando como a suspensão das estruturas perceptivas ordinárias pode revelar novas camadas da constituição subjetiva e da relação do ser com o mundo. A metodologia utilizada foi a revisão de literaturaconduzida com o objetivo de explorar a fenomenologia de Husserl, tendo em vista os fenômenos psíquicos fruto das experiências de expansão da consciência com a medicina Ayahuasca, analisando conceitos, teorias e evidências empíricas relevantes, além de identificar lacunas no conhecimento existente. A busca por estudos foi realizada em bases de dados acadêmicas reconhecidas, como Google Scholar, Scopus, Web of Science, PubMed e SciELO, utilizando descritores e palavras-chave combinados com operadores booleanos (AND, OR) para refinar os resultados.
INTRODUÇÃO
A fenomenologia rejeita as especulações sobre as cosmovisões, pois acredita que a verdadeira essência dos fenômenos só pode ser acessada na experiência direta e consciente. Assim, a subjetividade transcendental, que é a consciência pura, torna-se o ponto de partida para a investigação das essências dos fenômenos.
Observamos, cada vez mais, que um dos desafios centrais da tradição intelectual do Ocidente científico é a tendência de substituir a experiência pelo discurso sobre ela. Até mesmo a vivência cotidiana tem sido gradualmente suprimida por tentativas indiretas de se falar sobre a vida, em vez de experimentá-la de fato. Assim, discorre-se sobre a vida, o amor, Deus, o sentido e o prazer, muitas vezes sem considerar a experiência concreta e humana dessas realidades, sem reconhecê-las em sua especificidade e tangibilidade. Fala-se do fenômeno, mas frequentemente se perde a conexão com ele. Aprisionados em equações, técnicas e estratégias, desaprendemos a interpretar os sinais do percurso.
A palavra “fenomenologia” deriva da junção de “fenômeno” e “logos”, significando, etimologicamente, o estudo ou a ciência dos fenômenos. No sentido mais amplo e originário, “fenômeno” designa tudo o que se manifesta, aparece ou se revela. Inicialmente, esse termo era utilizado para se referir exclusivamente a fenômenos físicos, ou seja, àquilo que existe externamente.
Segundo essa breve definição, a fenomenologia é um método, o que significa dizer que ela é o “caminho” da crítica do conhecimento universal das essências. Assim, para Husserl, a fenomenologia é o “caminho” (método) que tem por “meta” a constituição da ciência da essência do conhecimento ou doutrina universal das essências (GALEFFI, 2000, p. 14).
A essência do movimento fenomenológico reside justamente na proposta de um retorno às coisas mesmas, ao vivido, ao universo plural, disperso, mas vibrante e fecundo da existência real. A fenomenologia, nesse sentido, oferece um caminho essencial para compreender a condição humana. No campo da clínica, por exemplo, adotar uma postura fenomenológica pode ser um recurso valioso para o terapeuta, pois implica uma abertura genuína à experiência do outro.
Esse movimento intelectual é extremamente rico, permitindo diversas abordagens: uma mais teórica e eidética, outra de viés existencialista e hermenêutico, além de perspectivas ligadas à análise do discurso, ao pensamento sociocrítico, entre outras. De fato, a fenomenologia resiste à ideia de um “manual”, pois sua proposta não se alinha a roteiros predefinidos, seguros ou indiscutíveis. Seu maior mérito está em reivindicar a experiência vivida, cultivando um olhar que se permite ser tocado e transformado pelo próprio objeto que busca compreender.
Dentro desse contexto, os estudos sobre o xamanismo e a ayahuasca representam um campo de grande relevância. As práticas xamânicas, profundamente enraizadas em tradições ancestrais, oferecem uma perspectiva distinta sobre a experiência humana, fundamentada no contato direto com estados ampliados de consciência. A experiência da ayahuasca, por exemplo, desafia os limites do discurso racional e nos convoca a uma vivência sensorial e espiritual que transcende a análise teórica. Tais práticas se alinham à proposta fenomenológica ao valorizarem o vivido em sua totalidade, resgatando o papel do corpo, da intuição e da experiência subjetiva na construção do conhecimento. Assim, ao invés de reduzir essas experiências a meros objetos de estudo distantes, é fundamental considerá-las em sua riqueza fenomenológica, como formas legítimas de acessar dimensões profundas do ser e do existir.
A fenomenologia husserliana constitui um projeto filosófico cujo objetivo central é a descrição rigorosa da experiência vivida, por meio da suspensão dos pressupostos do senso comum e das concepções científicas preestabelecidas, utilizando o método da epoché – que significa o movimento de suspensão de todos os seus juízos, valores e morais humanos. De maneira análoga, , particularmente os rituais envolvendo a Ayahuasca, possibilitam uma ruptura na estrutura da experiência cotidiana, promovendo um contato ampliado com estados alterados de consciência. Nesse sentido, as experiências enteogênicas (substância que induz estados alterados de consciência e experiências espirituais) representam não apenas eventos subjetivos intensos, mas também desafios teóricos e metodológicos para uma abordagem fenomenológica da consciência.
Este estudo propõe um exame crítico das ressonâncias conceituais entre esses dois domínios, delineando as implicações filosóficas da experiência enteogênica sob a perspectiva da fenomenologia transcendental. Discute-se, ainda, a relevância dessas experiências para a compreensão da subjetividade e da estrutura intencional da consciência, abordando a maneira como o acesso a estados modificados de percepção pode oferecer uma nova abordagem para a análise dos atos de consciência e da constituição do mundo vivido.
A FENOMENOLOGIA E A INTENCIONALIDADE DE HUSSERL NOS ESTADOS MODIFICADOS DE CONSCIÊNCIA COM A AYAHUASCA
Fenomenologia e Redução Eidética de Husserl propõe um procedimento metodológico destinado a apreender as essências dos fenômenos, mediante a prática da epoché, ou seja, a suspensão dos juízos naturais e a focalização sobre o modo como os objetos são constituídos na consciência. Esse método busca ultrapassar a facticidade empírica para alcançar a essência dos fenômenos, permitindo uma apreensão mais profunda da estrutura intencional da experiência.
De forma similar, a experiência xamânica com a ayahuasca pode ser compreendida como um processo de descondicionamento da percepção ordinária, permitindo um acesso a estruturas mais fundamentais da experiência. Relatos etnográficos – descrever os costumes, crenças, rituais e práticas de um grupo social a partir da vivência do pesquisador em campo –, e fenomenológicos sugerem que tais vivências frequentemente envolvem estados de despersonalização, dissolução do ego e uma ampliação da percepção, aspectos que podem ser elucidados a partir do aparato conceitual husserliano.
A dissolução da identidade individual e a emergência de novos modos de percepção sugerem que a experiência com a ayahuasca pode funcionar como uma espécie de epoché radical, na qual não apenas os juízos sobre a realidade são suspensos, mas também a própria estrutura identitária do sujeito é colocada em questão. Nesse contexto, a fenomenologia pode se beneficiar da análise desses estados para expandir sua compreensão sobre a relação entre percepção, corporeidade e intencionalidade.
Edmund Husserl rejeita a ideia de que aquilo que se apresenta na experiência atual não corresponde à verdadeira realidade. Ele redefine a fenomenologia ao situar o fenômeno no campo imanente da consciência. Embora não negue a relação entre o fenômeno e o mundo exterior, considera essa conexão secundária para sua análise. Sua proposta de “volta às coisas mesmas” enfatiza o estudo do fenômeno puro, tal como ele se manifesta à consciência. Dessa forma, Husserl atribui um sentido mais subjetivo ao conceito de fenômeno, desenvolvendo uma fenomenologia que, por si só, assume um papel ontológico. Para ele, o ser e o fenômeno são inseparáveis em sua significação.
Dentro desse horizonte, a experiência da ayahuasca pode ser compreendida à luz da fenomenologia, pois desafia as fronteiras entre sujeito e objeto, ampliando as formas de percepção da realidade. Os estados de consciência alterados provocados pela bebida xamânica oferecem uma manifestação direta do fenômeno, tal como ele se dá à consciência, sem mediações externas. A vivência da ayahuasca convida à suspensão dos pressupostos habituais sobre a realidade, possibilitando novas formas de intuição, compreensão do ser “[…] dissolução do ego ansioso, reestruturação visual, alterações auditivas e redução da vigilância” (UTHAUG; MASON & TOENNES, et al, 2021) Assim, a abordagem fenomenológica se apresenta como um caminho adequado para investigar tais experiências, respeitando sua riqueza subjetiva e existencial.
Segundo Ales Bello (2004), ao parafrasear Husserl, a intencionalidade, conceito axial da fenomenologia, refere-se ao caráter constitutivo da consciência, que está sempre direcionada a um objeto. Os estados alterados de consciência induzidos pela Ayahuasca modulam essa estrutura intencional, reconfigurando a relação entre sujeito e objeto e permitindo novas formas de engajamento com os conteúdos da experiência. O caráter visionário de tais estados, frequentemente descritos como imersões em paisagens simbólicas e diálogos com entidades arquetípicas, ilustra como a modulação da intencionalidade pode levar a formas inéditas de significação e compreensão do mundo.
Nesse contexto, o transe xamânico pode ser analisado como uma reorganização dos atos intencionais, proporcionando uma reconceituação do mundo vivido e da própria constituição subjetiva. Os relatos dessas experiências sugerem que o fluxo da consciência, normalmente organizado de acordo com categorias espaço-temporais rígidas, torna-se mais fluido, permitindo que novas conexões sejam estabelecidas entre elementos da experiência. Essa reconfiguração pode ser vista como uma forma de epoché ampliada, na qual não apenas se suspende o juízo sobre o mundo, mas se acessam novas formas de percepção e compreensão.
O estudo dos estados não ordinários de consciência sob a ótica da fenomenologia levanta questões epistemológicas fundamentais sobre os limites da experiência e do conhecimento. A fenomenologia husserliana tradicionalmente busca descrever a constituição da experiência a partir de um sujeito transcendental. Como afirma Galeffi (2000, p. 17), “a fenomenologia transcendental é fenomenologia da consciência constituinte e, portanto, não lhe pertence sequer um único axioma objetivo (referente a objetos que não são consciência…)”. No entanto, a dissolução da identidade experimentada em estados alterados de consciência sugere a necessidade de repensar essa estrutura. A possibilidade de acessar formas de experiência que desafiam as categorias usuais da percepção e da cognição aponta para uma ampliação da fenomenologia, que poderia incorporar novas metodologias para abordar a relação entre consciência, corporeidade e mundo.
Além disso, as implicações ontológicas dessas experiências são profundas. A ayahuasca não apenas altera a forma como o mundo é percebido, mas também coloca em questão a própria natureza da realidade. As descrições de encontros com entidades, viagens a dimensões desconhecidas e experiências de dissolução do eu indicam que a ontologia husserliana precisa ser reavaliada à luz desses fenômenos. A distinção entre realidade e aparência, essencial para a fenomenologia, torna-se menos evidente quando a própria percepção é radicalmente transformada.
A APLICAÇÃO DO MÉTODO FENOMENOLÓGICO NO CONTEXTO DA AYAHUASCA
A fenomenologia consiste na tentativa de descrever o fundamento da filosofia na consciência, na qual a reflexão emerge da vida irrefletida ao longo de toda a experiência. No contexto da ayahuasca, a fenomenologia pode ser aplicada para compreender os estados não ordinários de consciência sem reduzi-los a meras explicações neuroquímicas ou culturais. A seguir, apresentam-se os principais aspectos do método fenomenológico husserliano:
1. Método derivado de uma atitude: A fenomenologia, enquanto método filosófico, parte de uma atitude de suspensão de crenças ou pré-julgamentos, que é chamada de “epoché”. O objetivo é examinar o fenômeno tal como se apresenta na consciência, sem a interferência de teorias ou pressupostos externos. Segundo Husserl (2012), esse método busca alcançar uma evidência apodítica, ou seja, uma evidência que seja incontestável e universal. Ao adotar uma abordagem livre de pressupostos, a fenomenologia pretende proporcionar uma base sólida para o conhecimento filosófico, com a intenção de torná-lo uma ciência rigorosa, voltada para o estudo das essências dos fenômenos.
2. Análise da consciência: O centro da fenomenologia é a análise da consciência, visto que é nela que os fenômenos se manifestam. Para Husserl (2012), a consciência não é um dado isolado, mas sempre está voltada para algo, ou seja, é intencional. Isso significa que todos os conteúdos da consciência se relacionam com objetos que são “doados” à percepção. A fenomenologia rejeita as especulações sobre as cosmovisões, pois acredita que a verdadeira essência dos fenômenos só pode ser acessada na experiência direta e consciente. Assim, a subjetividade transcendental, que é a consciência pura, torna-se o ponto de partida para a investigação das essências dos fenômenos.
3. Descrição em vez de inferência: Ao contrário das ciências naturais ou das abordagens metafísicas, que muitas vezes recorrem à inferência ou à construção de teorias, a fenomenologia adota uma abordagem descritiva. O método fenomenológico se baseia na descrição detalhada e precisa da experiência vivida, sem recorrer à explicação ou a qualquer tipo de inferência. A fenomenologia, portanto, realiza uma análise fenomenológica que é específica e cumulativa, levando em consideração os dados que emergem da experiência e não teorizando ou inferindo além disso. Como defendido por Merleau-Ponty (2012), isso permite que a fenomenologia capture a realidade em sua forma mais imediata e genuína.
4. Conhecimento baseado nas essências: Enquanto as ciências empíricas se ocupam dos dados contingentes e particulares, a fenomenologia busca um conhecimento que transcende o empírico e se fundamenta nas essências dos fenômenos. O “conhecimento das essências”, ou “eidético”, refere-se à busca pela compreensão das qualidades invariáveis e necessárias que tornam algo o que é. Husserl (2012) argumenta que o conhecimento fenomenológico não se limita às variáveis contingentes do mundo físico, mas busca captar as estruturas essenciais e universais que podem ser reconhecidas em todas as manifestações do fenômeno.
5. Atividade científica fundamental: Embora a fenomenologia não esteja subordinada às ciências naturais, ela se propõe como uma disciplina científica rigorosa, pois tem como objetivo investigar os fundamentos da experiência humana e das demais ciências. Para Husserl (2012), a fenomenologia é uma ciência fundamental que busca os alicerces das próprias condições de possibilidade do conhecimento e da investigação científica. Ao fazer isso, ela oferece uma base sólida para as demais disciplinas, pois investiga a maneira como a experiência e o conhecimento se constituem a partir da consciência. Dessa forma, a fenomenologia não apenas se distingue das ciências naturais, mas também fornece uma plataforma de análise que serve como um ponto de partida para todas as investigações filosóficas e científicas.
Husserl distingue as ciências da atitude natural e as ciências da atitude fenomenológica. No contexto da ayahuasca, essa distinção é relevante, pois a experiência enteogênica frequentemente desafia a objetividade convencional. A fenomenologia considera a consciência pura como o resíduo da epoché, isto é, a suspensão dos juízos naturais sobre a realidade. Diferente da psicologia, que investiga os fenômenos da consciência a partir de uma perspectiva empírica, a fenomenologia busca compreender a vivência em si mesma, reduzindo qualquer objetividade dada à experiência subjetiva para análise crítica.
Assim, a fenomenologia pode contribuir para uma compreensão mais profunda das experiências com a ayahuasca, ao fornecer um método descritivo e rigoroso que não se limita às explicações empíricas. A filosofia tornar-se-á uma ciência de rigor ao evidenciar que as construções teóricas do espírito não devem restringir-se à descrição objetivista dos fatos individuais, mas devem conduzir à investigação das raízes últimas da experiência e da consciência.
CONCLUSÃO
O diálogo entre a fenomenologia husserliana e a experiência xamânica abre caminho para investigações mais aprofundadas sobre a constituição da consciência e os limites da experiência fenomenológica. Tanto a epoché quanto a expansão da consciência mediada pela ayahuasca compartilham o potencial de desarticular pressuposições habituais e revelar dimensões inauditas da experiência, uma vez que “as descobertas atuais demonstram que as melhorias na saúde mental dos participantes em cerimônias naturalistas de ayahuasca” (UTHAUG; MASON & TOENNES, et al, 2021). Assim, a convergência entre a filosofia transcendental e as práticas rituais ancestrais não apenas enriquece nossa compreensão sobre estados modificados de consciência, mas também suscita questionamentos ontológicos e epistemológicos fundamentais para uma teoria ampliada da subjetividade e da percepção.
Dessa forma, a fenomenologia pode encontrar nos estados enteogênicos um campo fértil para novas investigações, permitindo um aprofundamento na análise da estrutura da consciência. Ao levar a sério as experiências xamânicas como fontes legítimas de conhecimento fenomenológico, abre-se um horizonte de pesquisa no qual a interseção entre filosofia e experiência direta pode gerar novas compreensões sobre a mente, a realidade e os limites da cognição humana.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALES BELLO, A. A fenomenologia. In: _____. Fenomenologia e ciências humanas: psicologia, história e religião. Bauru, SP: EDUSC, 2004, p.80-101.
GALEFFI, Dante Augusto. O QUE É ISTO — A FENOMENOLOGIA DE HUSSERL?. Ideação,Feira de Santana, n.5, p.13-36, jan./jun. 2000.. Disponível em < https://www.miniweb.com.br/Ciencias/artigos/fenomenalogia.pdf>. Acesso dia 07 de março de 2025.
HUSSERL, Edmund. Investigação Lógica. São Paulo: Vozes, 2012.
UTHAUG, MV, Mason, NL, Toennes, SW et al. Um estudo controlado por placebo dos efeitos da ayahuasca, set e setting na saúde mental de participantes em retiros de grupo de ayahuasca. Psicofarmacologia 238 , 1899–1910 (2021).
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
Mayníki Jhankri (Sharlys Jardim) Psicólogo do Terra Xamã